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A moreninha - Epílogo

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Epílogo A chegada de Filipe, Fabrício e Leopoldo veio dar ainda mais viveza ao prazer que reinava na gruta. O projeto de casamento de Augusto e D. Carolina não podia ser um mistério para eles, tendo sido como foi, elaborado por Filipe, de acordo com o pai do noivo, que fizera a proposta, e com o velho amigo, que ainda no dia antecedente viera concluir os ajustes com a senhora D. Ana; e, portanto, o tempo que se gastaria em explicações passou-se em abraços. - Muito bem! muito bem! disse por fim Filipe; quem pôs o fogo ao pé da pólvora fui eu, que obriguei Augusto a vir passar o dia de Sant’Ana conosco. - Então estás arrependido?... - Não, por certo, apesar de me roubares minha irmã. Finalmente para este tesouro sempre teria de haver um ladrão: ainda bem que foste tu que o ganhaste. - Mas, meu maninho, ele perdeu ganhando... - Como?... - Estamos no dia 20 de agosto: um mês! - É verdade! um mês! exclamou Filipe. - Um mês!... gritaram Fabrício e Leopoldo. - Eu não enten

A moreninha - Cap. 23. A Esmeralda e o Camafeu

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23. A Esmeralda e o Camafeu Dona Carolina passou uma noite cheia de pena e de cuidados, porém já menos ciumenta e despeitada; a boa avó livrou-a desses tormentos; na hora do chá, fazendo com habilidade e destreza cair a conversação sobre o estudante amado, disse: - Aquele interessante moço, Carolina, parece pagar-nos bem a amizade que lhe temos, não entendes assim?... - Minha avó... eu não sei. - Dize sempre, pensarás acaso de maneira diversa?... A menina hesitou um instante, e depois respondeu: - Se ele pagasse bem, teria vindo domingo. - Eis uma injustiça, Carolina. Desde sábado à noite que Augusto está na cama, prostrado por uma enfermidade cruel. - Doente?! exclamou a linda Moreninha, extremamente comovida. Doente?... em perigo?... - Graças a Deus, há dois dias ficou livre dele; hoje já pôde chegar à janela, assim me mandou dizer Filipe. - Oh! pobre moço!... se não fosse isso teria vindo ver-nos!... E, pois, todos os antigos sentimentos de ciúme e temor da incon

A moreninha - Cap. 22. Mau Tempo

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22. Mau Tempo Tristes dias têm-se arrastado. Augusto está desesperado. Voltando da ilha de..., depois daquele belo dia da declaração de amor, achou na Corte seu pai e em poucos momentos teve de concluir, da severidade com que era tratado, que já alguém o havia prevenido das suas loucuras e dos muitos pontos que ultimamente tinha dado nas aulas. A mais bem merecida repreensão, e um discurso cheio de conselhos e admoestações, vieram por fim dar-lhe a certeza de que o seu bom velho estava ciente de tudo. Para coroar a obra, contra o costume do maior número dos nossos agricultores, que, quando vêm à cidade, estão no caso do fogo viste linguiça? e ainda bem não puseram os pés no Largo do Paço já têm os pés na Praia Grande (que por estes bons cinquenta anos há de continuar a ser Praia Grande, apesar de a terem crismado Niterói), o pai de Augusto não falava em voltar para a roça; e, a julgar-se pelo sossego e vagar com que tratava os menos importantes negócios, parecia haver esquecido a m

A moreninha - Cap. 21. Segundo Domingo: Brincando com Bonecas

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21. Segundo Domingo: Brincando com Bonecas Raiou o belo dia, que seguiu a sete outros, passados entre sonhos, saudades de esperanças. Augusto está viajando: já não é mais aquele mancebo cheio de dúvidas e temores da semana passada, é um amante que acredita ser amado e que vai, radiante de esperanças, levar à sua bela mestra a lição de marca que lhe foi passada. O prognóstico de D. Carolina, na gruta encantada, se vai verificando: Augusto está completamente esquecido da aposta que fez e do camafeu que outrora deu à sua mulher. Um bonito rosto moreninho fez olvidar todos esses episódios da vida do estudante. D. Carolina triunfa e seu orgulho de despotazinha de quantos corações conhece deveria estar altaneiro, se ela não amasse também. Como da primeira vez, Augusto vê o dia amanhecer-lhe no mar; e, como na passada viagem, avista sobre o rochedo o objeto branco, que vai crescendo mais e mais, à medida que seu batelão se aproxima, até que distintamente conhece nele a elegante figura d

A moreninha - Cap. 20. Primeiro Domingo: Ele Marca

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20. Primeiro Domingo: Ele Marca Augusto madrugou, e muito; quando a aurora começou a aparecer, já ele havia vencido meia viagem e seu desejo era ir acordar na ilha de..., uma pessoa que tinha o mau costume de dormir até alto dia; por isso instava com os seus remeiros para que forcejassem; e, enquanto seu batelão se deslizava pelas águas, rápido como uma flecha pelos ares, ele o acusava de pesado, de vagoroso; tinha há muito descoberto a ilha de... e; os objetos foram pouco a pouco se tornando mais e mais distintos; viu a casa, viu o rochedo em que outrora a tamoia deveria ter cantado seus amores e de sobre o qual cantara, há oito dias, D. Carolina a sua balada; depois distinguiu sobre esse rochedo negro um ponto, um objeto branco, que foi crescendo, sempre crescendo, que enfim lhe pareceu uma figura de mulher, que ostentava a alvura de seus vestidos. Depois ele tinha desviado um pouco os olhos; quando os voltou de novo para o rochedo, a figura branca havia desaparecido como um sonho.